Na semana passada estive em um fórum onde a discussão girou em torno do tema: Como a tecnologia está transformando a forma como nos alimentamos.
Parei para fazer minha reflexão sobre quais seriam os melhores aprendizados a compartilhar com as quase 600 pessoas presentes e percebi que antes de falar de tecnologia, eu deveria expor as razões desta revolução que vivemos atualmente no Food System.
Entre muitos porquês, listei os principais estopins desta virada:
O cenário global de mudanças climáticas transformando o agronegócio. A forma como planejamos, plantamos, colhemos e manejamos as safras para que se obtenha cada vez mais produtividade e evite-se perda neste momento da cadeia.
Tudo isso aliado a escassez de água e terras férteis para expandir o plantio que poderia alimentar os 10b de pessoas que seremos em apenas 30 anos;
O aumento da demanda de 70% desta produção de alimentos considerando o cenário de escassez e as mudanças de comportamento do consumidor;
E os consumidores cada vez mais informados e conectados. As pessoas hoje querem saber o que estão comendo, de onde veio e como foi produzido. Nunca se valorizou tanto a transparência na cadeia alimentar e se somarmos a isto a falta de credibilidade que as pessoas têm em relação a indústria de alimentos, o efeito é ainda mais potencializado.
Eles, ou nós, os consumidores, são na verdade a principal razão destas mudanças. Gente consciente que percebeu que suas atitudes refletem imediatamente num planeta colapsado.
Só hoje nós já consumimos 1,7 vez mais que a Terra consegue regenerar em alimentos, então não precisamos esperar mais 30 anos para ver o que vai acontecer. Os próximos 30 anos são na verdade os mais importantes em nossa história enquanto raça humana, e somente o nosso comportamento irá definir nosso futuro.
A tecnologia não é o porquê, mas sim o como nós vamos reconstruir esta cadeia alimentar. E para atingir este nível de transformação, a ciência precisou começar a pensar em novos ingredientes, novas fontes de proteínas.
Até 2030 precisaremos aumentar 40% o número de proteínas disponíveis para alimentar a população e como faremos isso sem degradar ainda mais o nosso globo com produção de gases de efeito estufa, crueldade animal e alimentos de origem duvidosa?
Desde uma simples mudança no hábito alimentar, um caminho que tem sido discutido globalmente está em aliar o novo ao antigo. Mesclar a tecnologia com as origens.
Sabe aquela história da comida de verdade, saudável, feita em casa e que qualquer vovó reconheceria? É colocar na ‘mesma mesa’ esta comida coexistindo com as proteínas verdes, feitas em laboratório, oriundas de insetos, cogumelos ou até mesmo energia solar.
É quebrar qualquer conceito em relação a nomes como por exemplo, leite ou carne. O que é um leite hoje em dia, o que é carne? Já pensou na variedade destes alimentos que temos, e ainda surgirão, das mais diversas origens nestas categorias?
Além disso, é quebrar qualquer conceito que se tenha sobre construção de novos negócios. Hoje o conhecimento para fazer sentido, precisa ser exponencial e não há outro meio de se chegar nisso senão pelo ecossistema. É a comunidade envolvida no assunto que fará este ponteiro do Food Innovation se mexer, em especial, quando olhamos para um país como o nosso, de proporções colossais.
A inteligência está neste ecossistema que compartilha informações, baseia o desenvolvimento de novos produtos e serviços nos reais needsdo consumidor, seja ele sabor, segurança alimentar, conveniência, experiências ultra-nichadas, agilidade ou a origem do que está se comendo. Não importa.
O que importa daqui para frente é que ninguém tem mais tempo e paciência para bullshit.
A revolução das FoodTechs hoje conta com 35B de USD disponíveis para financiar estas inovações e um dos maiores desafios atuais é, que tipo de solução iremos entregar e para quem?
Em geral, quando falamos de inovação em food atrelado a tecnologia, estamos ainda falando de produtos de alto valor agregado que dependerão de muito investimento para ganhar larga escala e ser acessível ao grande público.
Até mais complexo que isso, é levar esta informação, a educação alimentar para a grande massa que nunca ouviu falar de plant-based ou ainda acha normal jogar fora comida de um dia para o outro. A produção diária de arroz e feijão no Brasil é desperdiçada em até 34% pelas classes mais baixas, que os chama de comida dormida. Nas carnes este número é de 32%. Números que impactam negativamente um mundo que tem 821 milhões de pessoas passando fome.
Então antes de falarmos do como (tecnologia) pensemos no porquê (pessoas) estamos começando a transformar a forma como nos alimentamos. Vamos focar esforços em de fato alimentar este ecossistema que criamos e batalhar por inovações acessíveis.
Ninguém conseguirá fazer isso sozinho já que é necessário um grande investimento de tempo, dinheiro e mudança de hábitos mas se cada um fizer sua parte, esta evolução pode andar ainda mais rápido e ser ainda mais prazerosa!
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