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Carol

FOOD AS A SERVICE (F.A.A.S.).

Recentemente li uma matéria que mostrava os principais motivos pelos quais uma Startup não sobrevive no tempo no mercado norte-americano. Motivos não faltavam. Imediatamente lembrei de todas as dificuldades que as mesmas passam em um país hostil ao empreendedorismo como o Brasil.

Mesmo assim, apesar das inúmeras barreiras que o mercado brasileiro apresenta, muitas conseguem sobreviver, desafiando o cipoal de regras, falta de crédito a baixo custo e por vezes até a lógica, provando que o brasileiro talvez seja um dos povos mais resilientes em termos competitivos no mundo.

Procurei analisar qual o principal fator entre inúmeros outros que faz com que uma Startup consiga sobreviver no mercado nacional, desafiando até a lei da gravidade.

Cheguei à conclusão de que a principal característica de uma Startup de sucesso atualmente, são aquelas que melhoraram a conveniência ou reduzem o trabalho do consumidor em setores que insistiram em não mudar em anos ou décadas.

Evidentemente que a boa gestão de um time preparado é fundamental, mas vejamos o que algumas empresas de enorme sucesso fizeram pelas pessoas recentemente. Exemplos como Amazon, Netflix, Uber, Waze, AirBnB entre outras, atacaram o que sobrecarregava as pessoas de trabalho, como ir a uma livraria, procurar taxis na rua ou se sujeitar aos processos medievais das centrais de taxi, ou ainda lidar com a frustração ao não encontrar um filme na locadora e ter que devolvê-lo rebobinado.

A mais recente indústria que está sendo destruída pela conveniência digital oferecida pelas Startups ou FoodTechs é a de entrega de refeições. Inúmeras empresas estão eliminando o trabalho envolvido em cozinhar ou jantar em um restaurante. E isto certamente levará a mudanças relevantes no mercado em relação ao ato de comprar alimentos, culinária e alimentação no lar. Estamos falando de cifras inimagináveis até pouco tempo. O mais interessante é que todos os atores deste jogo ainda estão em formação, tentando ocupar seu espaço no mercado. O vencedor deste novo ecossistema de negócio poderá ser a próxima nova empresa bilionária.

A mais recente indústria que está sendo destruída pela conveniência digital oferecida pelas Startups ou FoodTechs é a de entrega de refeições.

Como sempre procuro mostrar em meus artigos, vamos aos fatos. A tecnologia sempre foi importante para a produção de alimentos. Graças a ela, a porcentagem da força de trabalho dos EUA na produção de alimentos, caiu de mais de 90% no século 18, para menos de 10% atualmente, segundo um estudo de 2018 realizado pela ARK Investment Management LLC. À medida que a agricultura se tornou industrializada e mecanizada, a tarefa de produção do agricultor individual foi sendo eliminada, algo que era um fato inexorável da vida cotidiana há milhares de anos.

Provavelmente no passado, as pessoas não queriam ser agricultores. Eram, não por opção, mas por falta de. Ou plantavam, ou passavam fome. Atualmente muitas pessoas não querem cozinhar no dia a dia, devido ao modelo de vida adotado, principalmente em grandes centros urbanos. Aproximadamente 90% dos norte-americanos odeiam ou não gostam muito de cozinhar, de acordo com um estudo da Harvard Business Review. O resultado é que a indústria de restaurantes cresceu, com uma receita de US$ 830 bilhões em 2018.

Interessante notar que pela 1. vez desde que o dado começou a ser monitorado, foi a partir de 2014 que os norte-americanos gastaram mais dinheiro em jantar fora do que comprando mantimentos, conforme gráfico abaixo.

Atualmente vivemos outra mudança interessante. Jantar fora apesar de ser mais prático do que cozinhar, ainda traz alguns inconvenientes, como o alto preço, tempo de deslocamento, custo de estacionamento, combustível etc.

A entrega de comida pronta oferece o melhor dos dois mundos: refeições prontas com variedade e qualidade, no conforto e privacidade do lar. Antes isso já era possível, mas a variedade se limitava a pizza ou comida chinesa. A internet móvel facilitou o desenvolvimento de aplicativos de refeições, como o iFood e Uber Eats, mais conhecidos no Brasil ou o GrubHub nos Estados Unidos. Ampla variedade de restaurantes, opções saudáveis e pedidos a um toque no celular, transformaram a entrega de refeições em um mercado gigantesco.

Apesar de recente, as plataformas de entrega de refeições on-line já atingiram US$ 120 bilhões em vendas brutas de alimentos em todo o mundo. E é a China que segue na liderança de mercado, seguido pelos Estados Unidos. As chinesas Meituan e Ele.me geram cerca de US$ 80 bilhões em vendas brutas anualmente, representando 64% da participação no mercado global. O GrubHub, líder de mercado nos EUA, contribui com apenas US$ 5 bilhões em comparação.

Apesar de recente, as plataformas de entrega de refeições on-line já atingiram US$ 120 bilhões em vendas brutas de alimentos em todo o mundo.

Atualmente a entrega de refeições apesar de conveniente, ainda é cara, dado que necessita de mão de obra humana para preparação e entrega. À medida que novas plataformas digitais apareçam e que o volume continue aumentando, novos modelos devem melhorar ainda mais a eficiência e reduzindo custos:

1- Cozinhas escuras – espaços de cozinha que não são restaurantes – para atender à demanda por determinados itens durante o horário de pico. Com o tempo e a regulamentação permitida, a produção de alimentos pode se tornar centralizada e orientada por dados, potencialmente aumentando a eficiência e os custos.

2- Automação de cozinhas – Uma nova classe de robôs equipados com sensores, chamados robôs colaborativos ou cobots, podem trabalhar com segurança ao lado de humanos.

3- Entrega Autônoma – Uma grande desvantagem das plataformas de entrega atuais é a necessidade de mensageiros humanos, adicionando US$ 3-4 por entrega. Algumas estimativas apontam que refeições podem ser entregues por veículos autônomos ou drones a um décimo desse custo ou menos.

4- Assinaturas – À medida que os consumidores se acostumam a pedir refeições em uma única plataforma, as assinaturas podem se tornar um modelo de negócios natural, garantindo uma recente recorrente ainda inexistente para tais negócios.

5- Serviços de entrega de kits de jantar – Os serviços de entrega de kits de jantar não substituirão as idas ao supermercado em breve. Mas, ao eliminar as compras e preparar uma refeição, eles atingiram o ponto ideal entre cozinhar a partir do zero e encomendar. Isso vem com a satisfação de uma refeição saudável, deliciosa e caseira, com pouco esforço e reduzindo as etapas mais desagradáveis de cozinhar, como picar cebola e alho.

6- Concorrência: Empresas como Whole Foods da Amazon, com centros de distribuição de varejo e instalações de processamento de alimentos no local, têm vantagens significativas em oferecer kits de jantar. Recomendo que os varejistas brasileiros olhem para este mercado com muita atenção.

7- Curadoria: Em breve uma nova FoodTech poderá oferecer um serviço de curadoria de restaurantes e pratos, baseados nas preferências de consumo de seus clientes, acoplado com um motor de inteligência artificial. Uma FoodTech que se especialize neste tipo de serviço, será a evolução dos críticos culinários, sem ter que investir um único dólar na preparação de alimentos.

Ou ainda um restaurante conhecido e desejado, mas inacessível, poderá aumentar suas receitas prestando este tipo de serviço, porém preparado por outras empresas, sob a supervisão e especificação deles.

Enquanto os varejistas de alimentos provavelmente verão uma queda nas vendas caso não entrem neste jogo pra valer, o setor de food service se expande.

Atualmente, esse mercado representa um TAM (Mercado Total Endereçável em inglês) de US$ 200 bilhões (50 milhões de pessoas trabalhando x 2 refeições / dia x US $ 8 / preço-alvo por refeição x 250 dias úteis / ano), onde várias Startups / FoodTechs estão sendo financiadas. As empresas nesse espaço podem ser classificadas como:

  1. Encomendas de restaurantes e serviços como Doordash, Forkable (comida entregue no trabalho), GrubHub, Yelp Eat24, UberEats

  2. Serviços de entrega de comida pronta, como Munchery, SpoonRocket, Sprig, iFood e UberEats (estes últimos no Brasil).

  3. Protagonismo na cadeia de valor. Uma vez que determinada plataforma ganhe volume relevante de entregas, poderá se virar para dentro e oferecer insumos aos restaurantes com preços menores do que os mesmos compram da indústria. Ou ainda fonte de financiamento e capital de giro para os restaurantes, uma das principais necessidades de qualquer restaurante, principalmente em sua fase inicial de operação.

  4. Serviços de entrega de kits de jantar como Blue Apron, Chef’d, Chef day, Gobble, Hello Fresh, Home Chef, Plated.

Considerando que 2,8 bilhões de consumidores em 2030 (1/3 da população mundial neste ano, segundo a ONU) utilizarem os serviços de entrega de refeições uma vez por semana a um custo médio de US$ 7 a 8 por refeição, o mercado escalaria quase 10 vezes, para cerca de US $ 1 trilhão a uma taxa anual, como mostrado neste gráfico da ARK Investment Management LLC.

Se a adoção atingir três refeições por semana, o tamanho do mercado poderá chegar a US$ 3 trilhões. Nada mal!

O resultado líquido dessas mudanças deve aumentar a retenção de clientes com assinaturas, expandir o mercado endereçável total com uma ampla variedade de seleção de restaurantes e melhorar as margens de restaurantes e plataformas por meio de automação, veículos autônomos, crédito mais barato e ágil no futuro, entre inúmeros outros serviços.

Espero que este artigo tenha aumentado seu apetite para conhecer mais sobre este ainda pouco explorado mercado de entrega de refeições prontas.

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