Como a indústria está se reinventando e utilizando a tecnologia, novos modelos de negócios e design para garantir alimentos saudáveis, seguros e suficientes para todos?
De acordo com o dado mais recente da ONU, a humanidade atingirá a incrível marca de 9,7 bilhões de pessoas em 2050, um crescimento de quase 26% em relação aos 7,7 bilhões atuais.
Frente a este dado assustador, um desafio é imposto: como alimentar todas estas pessoas? Evidentemente que não podemos manter a forma da ciência, cultivo, colheita, processamento, distribuição e o consumo que usamos atualmente. É necessário que os atores de toda a cadeia envolvida na alimentação repensem seus modelos de negócio e, em alguns casos praticamente do zero.
De acordo com uma pesquisa do FoodTech Movemente ainda a FAO (Organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação) cerca de 30% da produção mundial de alimentos é desperdiçada e no Brasil, de acordo com o World Resources Institute, isto representa por volta de 40 mil toneladas por ano. Simplesmente a conta não fecha.
Vivemos uma revolução no mundo graças a tecnologia em todas as áreas do conhecimento, da ciência de novos materiais a novas formas de consumir. E estamos apenas na pré-história do impacto positivo que teremos. Ainda estamos engatinhando com os produtos totalmente conectados, que farão muito das nossas atividades do dia a dia, com o IOT (Internet of things).
Na área de alimentos estamos vivendo o IOF (Internet of Food). Felizmente grande parte do ecossistema de alimentação não está parado. Tecnologia, dados e novos modelos de negócios estão impulsionando a transformação mais radical da indústria de alimentos desde a Revolução Verde. De robôs, drones, fazendas verticais em antigos galpões utilizando a hidroponia permitindo agricultura mais eficiente com redução na utilização de água e fertilizantes, a aceleradoras e sites de financiamento coletivo, ajudando empresas a lançar novos produtos e crescer.
De empresas de entrega e kits de refeições, passando por novas proteínas vegetais substituindo carne animal com sabor, ajudando as pessoas a desfrutar de alimentos saudáveis e acessíveis. Hordas de startups inovadoras estão interrompendo o status quoe são pioneiras. Futuro mais sustentável, saudável e principalmente rentável dos alimentos.
Toda esta mudança nos modelos de negócio e novos entrantes significa investimento pesado. E ele está acontecendo de forma rápida. Apenas no ano passado foram investidos US $ 1,45 bilhões em 247 negócios em alimentos e bebidas no mercado norte americano de acordo com a pesquisa da Food Tech Connect.
Com as aquisições em ascensão e mais capital fluindo para o setor, 2018 foi um grande ano para as startups de alimentos e bebidas dos EUA. No total, houve 247 financiamentos. O maior investimento do ano foi de US $ 114 milhões para a Impossible Foods, com um valor médio de investimento de US $ 2,4 milhões (abaixo dos US $ 3,9 milhões em 2017) e uma média de US $ 7,3 milhões (US $ 8,9 milhões em 2017). Apesar de um leve declínio em relação a 65 negócios em 2017, as fusões e aquisições permaneceram fortes, com 59 negócios de alimentos e bebidas de marca fechados em 2018, de acordo com os dados compilados por Houlihan Lokey, um profissional do mercado financeiro.
Conforme podemos ver no gráfico abaixo, os investidores estão colocando dinheiro novo e em grandes volumes em diferentes tipos de negócios.
Podemos notar que as maiores fatias foram para as proteínas alternativas, as chamadas Plant based de origem vegetal. Estimativas recentes indicam que as carnes vegetais ocupem até 14% do mercado total em 2028, o que significará uma receita de US$ 882 milhões.
No Brasil o produto já está nas prateleiras dos supermercados e nas redes de fast food como o Burger King. Empresas como Fazendo do Futuro, Seara, Behind, Superbom, Marfrig já oferecem suas propostas alternativas de carne.
O que é mais interessante ainda nisso tudo, é que apesar de muito recente, esta inovação pode estar obsoleta em breve. Várias Startups se dedicam agora a produzirem carne de laboratório ou ainda peixe, como a Finless Foods. O desafio é criar fórmulas capazes de fazer células produzirem carne animal. A ideia central é obter o sabor e a consistência da proteína animal com custos mais baixos.
Além da qualidade do produto, dois benefícios surgem deste trabalho: teremos alimentos mais saudáveis, com menos conservantes ou aditivos e o impacto na natureza será menor, segundo um estudo das universidades de Oxford e Amsterdã. A carne de laboratório pode gerar apenas 4% das emissões de gás, utilizar 2% da terra e reduzir o gasto energético da pecuária em até 45%. Nada mal!
Evidentemente que nenhum produto será um megassucesso se o cume da indulgência não for conquistado. Antes de qualquer coisa, as pessoas querem consumir produtos frescos, práticos, com rastreabilidade de origem, mas sobretudo gostosos.
O sabor ainda é a grande barreira para que os alimentos tecnológicos não fiquem reduzidos ao consumo de nicho dos consumidores convertidos em uma determinada causa. É no alto volume de produção e consumo que os custos cairão e que a grande massa de pessoas se beneficiará de toda esta tecnologia.
A aposta da Mosa Meat, uma empresa holandesa pioneira na produção de carne de laboratório, estima que um hambúrguer celular custe US$ 10,00 até 2021. Outras empresas como Memphis Meat, Super Meat e Just Inc. acompanham a aposta.
Quando olhamos os investimentos por marca no mercado norte americano, notamos que os aportes foram significativos, se considerarmos que até recentemente um hambúrguer alternativo, como de soja por exemplo, era sinônimo de produto com um gosto duvidoso e direcionado a um público muito específico.
Uma vez que o recente mercado de carne vegetal se torna rapidamente um mercado vermelho com várias empresas competindo, algumas Startups começam a trabalhar em produtos alternativos de leite animal, suportados por investidores com muito apetite por receitas e margens maiores do que os produtos tradicionais sem nenhum diferencial.
O segundo pedaço do gráfico de torta acima nos mostra algo muito interessante: o maior volume de investimentos em 2018 foi para os produtos lácteos alternativos, ou Alternative Dairy, com mais de US$ 200 milhões, sendo as 3 primeiras empresas US$ 40 milhões ou mais.
Veja no gráfico abaixo as marcas com maiores investimentos.
Um terceiro destaque aparece não pelo volume de investimento, mas pelo fato de ser algo distante dos brasileiros. Com 4% da fatia do gráfico acima estão os CBDs & THCs Food & Bevereage Brands, ou alimentos e bebidas que tem como base o óleo de canabidiol. O canabidiol, ou CBD, é um extrato natural da cannabis sativa e está tão popular nos Estados Unidos que não é de se surpreender que ele esteja disponível em todos os lugares e seja aplicado no tratamento de inúmeras doenças.
Os usuários dizem que o usam para tudo, desde dores musculares e ansiedade à artrite, epilepsia e transtorno de estresse pós-traumático. Há óleo de CBD até para cachorros, e com sabor de bacon. É uma indústria que espera faturar, segundo a consultoria Brightfield Group, US$ 5,7 bilhões (R$ 20 bilhões) em 2019 e US$ 22 bilhões (R$ 80 bilhões) até 2022, segundo uma matéria da BBC deste ano.
Enquanto você lê este artigo, alguma Startup está desenvolvendo um produto à base de Cannabis não psicoativa que, mais breve do que você possa imaginar, já estará nas gôndolas dos supermercados.
O happy hour nunca mais será o mesmo!
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